As mães tiram férias, folga, vão à praia com o marido e os filhos, mas o cansaço persegue a liberdade.
Semana passada, estava em uma praia do Ceará quando chegou um jovem casal e seu filhinho de uns 3 anos. Percebia-se o abismo entre o homem e a mulher. Ele ia confiante, na frente, olhando o celular, ajeitando os cabelos, sentando-se logo para aproveitar a praia. Ela ia atrás, receosa, de olho no menino. Carregava sua bolsa, a mochilinha de bichinhos e levava um olhar atento para o filho. O menino achou uma rampa e inventou suas brincadeiras. A mãe, visivelmente cansada, sentou-se junto ao marido. Os olhos continuavam atentos. "Caio, Caio, vem pra cá, Caio!". "Cuidado, Caio!". Ela gritava e o marido preocupava-se com a cerveja mais gelada. Seu ar continuava despreocupado, às vezes, tirava os olhos do celular, olhava o mar, o cardápio e raramente o filho. A mãe, aperreada, levanta-se e ia atrás de Caio. A cena se repetiu algumas vezes. O pai seguia na cervejinha gelada. Teve uma vez que Caio se aproximou de mim, e a mãe, em mais uma tentativa de deixá-lo próximo, veio junto. Olhei para os dois e ela desabafou: "Tou cansada, fui olhar um minutinho o celular e ele [o marido] reclamou que eu não estava tomando conta do menino." Quis abraçá-la, seus olhos pediam socorro.
O descanso do homem depende do sacrifício da mulher. A cultura machista o blinda de qualquer preocupação, o protege, garante seu sorriso despreocupado, seu andar confiante. Nos ensinaram assim, naturalizaram o comportamento que faz a moça desabar. Naturalizaram o cansaço da mãe para preservar a folga do pai. A negação do direito da mulher para garantir o privilégio do homem é base da cultura machista.
O machismo não dá folga, no máximo, um aviso prévio.