segunda-feira, 7 de maio de 2018
Terra rachada nunca foi motivo pra Asa Branca não voltar
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1) "Você sabe, esse programa de cisternas do governo está crescendo aqui."
Respondi sim, envergonhada por não entender muito sobre a política conquistada depois da luta popular. O programa recebeu mais investimento com os governos do nordestino metalúrgico do ABC paulista. Estava recém-formada, chegando à cidade de Pesqueira para meu primeiro emprego, o primeiro parágrafo de uma viagem pelas entranhas de um Brasil das Vidas Secas, da Asa Branca, do “ser tão”. Cheiro de bolo vindo do forno, suco de maracujá do quintal, galinha assada pro almoço. Foi na cozinha de Dona Ceça que conheci o Sertão diferente das páginas de alguns jornais, aquele da indústria da seca. Com ela e tantas outras agricultoras, aprendi sobre o processo empoderador que acontece com o acesso a direitos e, quando em vez de números, o povo é visto pelos sonhos: “é no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste.”
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2) "Menina, onça até que tem muita aqui, mas medo mesmo a gente tem é do bicho homem."
Ali, no norte de Minas Gerais, vi a turma do agronegócio perseguir as comunidades pesqueiras. Josemar pescava com o pôr do sol, o entrevistei com o balanço do Velho Chico, onde o tempo é mais que atemporal. Reafirmei como as escolhas neoliberais do projeto petista cutucam o bicho capital com vara curta. Mas com Josemar também entendi: esse governo, porém, deu uma brecha para o diálogo com as comunidades tradicionais, abrindo portas de Ministérios. Não como agricultora que chama pra prosa e suco no final do dia, mas era um avanço na luta por direitos e pela vida. “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro”
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3) "Ah, eu quero entrar numa faculdade né? Pra ser o que eu quiser."
É difícil chegar a Roda de Fogo de ônibus, mas Maria* sabe que o bolsa família contribuiu para que ela pudesse estudar e andar com seus pés, ou “eu posso ter asas”. Era 2016, perto do golpe, alguns meses antes do irmão ser assassinado. Um ano depois a reencontrei, com 16 anos, o medo era ver sua comunidade de volta à mesma realidade da juventude de sua mãe e avó. Uma realidade na qual viver e morrer já não se distinguiam. Maria ouviu suas mulheres e entendeu que o golpe é uma máquina do tempo, dessas que a gente torce para não existirem. “Os meninos, as meninas e o povo no poder, eu quero ver.”
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Foram muitos Silvas pelo meu caminho, realidades que os sobrenomes que carrego nunca teriam me apresentado. Mesmo com as contradições e os tratados políticos e econômicos com as elites, o Silva de Caetés escutou e deu não só a vara, mas as condições para que o povo aprendesse e reaprendesse a cultivar, estudar e encontrar a dignidade. Em Brasil de Marinho, Abravanel, Jucá e Temer, carregar o Silva na presidência é garantir que, no Sertão, no São Francisco ou na favela, a identificação popular desenhe os respiros da alvorada, essa que conhecemos por menina democracia. Hoje, um Silva é preso político, mas ele nos disse: “não vão prender meus sonhos”. E esse sonho é multidão.
#Lulalivre nos fala sobre o respeito à constituição, ao processo democrático e à narrativa sendo feita por quem nunca deixou de resistir. Terra rachada nunca foi motivo pra Asa Branca não voltar. É hora de recontar essa história. Nas ruas e nas bases populares.
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
O descanso e o cansaço: crônica de uma machismo estruturado
Semana passada, estava em uma praia do Ceará quando chegou um jovem casal e seu filhinho de uns 3 anos. Percebia-se o abismo entre o homem e a mulher. Ele ia confiante, na frente, olhando o celular, ajeitando os cabelos, sentando-se logo para aproveitar a praia. Ela ia atrás, receosa, de olho no menino. Carregava sua bolsa, a mochilinha de bichinhos e levava um olhar atento para o filho. O menino achou uma rampa e inventou suas brincadeiras. A mãe, visivelmente cansada, sentou-se junto ao marido. Os olhos continuavam atentos. "Caio, Caio, vem pra cá, Caio!". "Cuidado, Caio!". Ela gritava e o marido preocupava-se com a cerveja mais gelada. Seu ar continuava despreocupado, às vezes, tirava os olhos do celular, olhava o mar, o cardápio e raramente o filho. A mãe, aperreada, levanta-se e ia atrás de Caio. A cena se repetiu algumas vezes. O pai seguia na cervejinha gelada. Teve uma vez que Caio se aproximou de mim, e a mãe, em mais uma tentativa de deixá-lo próximo, veio junto. Olhei para os dois e ela desabafou: "Tou cansada, fui olhar um minutinho o celular e ele [o marido] reclamou que eu não estava tomando conta do menino." Quis abraçá-la, seus olhos pediam socorro.
O descanso do homem depende do sacrifício da mulher. A cultura machista o blinda de qualquer preocupação, o protege, garante seu sorriso despreocupado, seu andar confiante. Nos ensinaram assim, naturalizaram o comportamento que faz a moça desabar. Naturalizaram o cansaço da mãe para preservar a folga do pai. A negação do direito da mulher para garantir o privilégio do homem é base da cultura machista.
O machismo não dá folga, no máximo, um aviso prévio.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
O tempo, o progresso e há esperança
Jorge Amado, 1958, em "Gabriela, Cravo e Canela.
domingo, 6 de maio de 2012
O Sol Nascerá
Um sorriso no rosto e a vida pela frente.
sexta-feira, 9 de março de 2012
Não digam que o racismo não existe mais
Adicionando algo importante a ser esclarecido, retirado de uma Publicação do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - Ibase - e do Observatório da Cidadania: "Quando as pessoas que defendem as cotas raciais falam de "raça" estão dando um sentindo político e social ao termo. Ou seja, referem-se às pessoas que se declaram ao IBGE como 'pretas' ou 'pardas'. Numa leitura política essas duas categorias de cores são entendidas como o segmento 'negro' da população, pois as pesquisas mostram que as trajetórias das pessoas 'pretas' e 'pardas' são muito mais próximas do que a das 'brancas'. A desigualdade e a discriminação racial precisam ser corrigidas com políticas públicas e não só com a ideia de que somos um 'paraíso racial'. "
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Comunicação justa para todos os lados
domingo, 11 de setembro de 2011
11 de setembro de 1973
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Dia do Agricultor – Experiências de sustentabilidade no Semiárido
Aos meus queridos agricultores e às minhas queridas agricultoras, dedico esse texto que foi postado no Zine Pasárgada: Dia do Agricultor – Experiências de sustentabilidade no semiárido
E para ver, as fotos do flickr.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Sexta-feira com uma Conversa de Botequim, faça o favor
Conversa de Botequim é uma música do grande Noel Rosa em parceria a Vadico e data de 1935. De melodia boemia e letra simples, ela chega aos nosso ouvidos como se estivesse brincando. Em um ritmo todo rimado, a composição consegue até transformar em doçura as amarguras no botequim. Regravada (não sei quando) por Chico Buarque, Conversa de Botequim já tinha caído no gosto nacional compondo assim a nossa grande e diversa música popular brasileira.
Boa sexta-feira, com cerveja, proza e Chico (cantando Noel)!
Versão original de Noel Rosa.
Versão de Chico lindo
terça-feira, 31 de maio de 2011
Eu respeito, sim!
Nos últimos dias, me deparei com um vergonhoso texto (quem quiser conferir é só clicar aqui) em um blog de um famoso colégio do Recife - o Fazer Crescer (já posso chamar de decrescer?). Bem, esse fato me deixou bastante preocupada, não só por ser uma instituição de grande influência para as gerações futuras, mas também por demonstrar como muitos jovens da minha geração estão pensando.
A forma como a homossexualidade é tratada e vista hoje em dia ainda é preconceituosa e, pior, da maneira mais hipócrita possível.
Em homenagem ao colégio Fazer Decrescer, deixo aqui meu texto.
Oi, meu nome é Mele e sou heterossexual assumida. E, sinceramente, isso não é motivo de orgulho. É apenas minha orientação sexual. Orgulho mesmo eu tenho de perceber que posso lidar com pessoas e vê-las, independente de cor, raça, sexo e orientação sexual, do jeito que sempre tratei e vi qualquer um, como pessoas e como seres humanos que bem somos.
Que conceito de normalidade é esse? A homossexualidade é tão antiga (nossos livros de Historia que o digam!) que passo a achar que o nosso percurso histórico também seria anormal. Será? Claro que não.
Ainda existe a tal da hipocrisia (danada essa), do discurso alienado e preconceituoso que se nota nas nossas conversas em mesas de bares, em nossos meios virtuais (alô, Fazer Crescer!) e em nossos meios de comunicação. Ah! E, por favor, não me venham com "Deus criou o homem e a mulher para que eles possam procriar". Independente da minha crença religiosa e da minha crença ou não no divino, sempre entendi que Deus criou as PESSOAS para se amarem. Um casal heterossexual que opte por não ter filhos também seria considerado anormal? Uma sociedade composta pela diversidade é um fato e junto a ele precisamos ter o respeito.
Uma última resposta: